A HIDRATAÇÃO DOS CASCOS
O casco dos cavalos possui externamente em sua parede uma proteção natural denominado extrato tectorium. O extrato tectorium ou extrato externo, também conhecido popularmente como verniz do casco, tem como função proteger e regular a perda de água do casco por evaporação, bem como, evitar excesso de absorção de água do meio ambiente para o interior do casco por capilaridade.
O controle hídrico do casco está intimamente relacionado a uma boa capacidade vascular. A umidade interna do casco é oriunda da circulação interna do casco que proporciona, através do sangue e da linfa um composto eletrolítico capaz de hidratar a parede do casco. A manutenção de um casco bem hidratado é um mecanismo auxiliar de amortecimento do estojo córneo. A boa hidratação garante ao estojo córneo maior elasticidade e maior tolerância as forças de compressão que são exercidas nos cascos.
Infelizmente, criou-se o costume por parte dos ferradores de lixar os cascos dos cavalos após a ferragem, justamente retirando extrato tectorium. Muitos destes profissionais comentam que tem de entregar o casco bonito. Porém, neste caso é melhor um casco não polido e lixado, mas saudável, do que o casco mais bem apresentável. Temos de alertar aos ferradores a não realizar o lixamento do casco.
O casco menos hidratado é menos hábil em amortecer os impactos e mais sujeito a rachaduras e ainda se torna um casco quebradiço e intolerante a cravos. Após um processo de ferrageamento, alguns autores citam que o casco sofre uma contração de ate 5% em seu volume, justamente, por um processo de perda hídrica. Assim sendo, esta contração pode ainda ser aumentada quando retiramos o “verniz do casco” e mais do que a contração imediata, sem o extrato externo o casco leva alguns dias para estabilizar o equilíbrio hídrico com a produção de um novo extrato. Neste ínterim, sem a proteção natural, fezes e urina, água e calor excessivo pode propiciar um macroambiente ruim para a saúde dos cascos.
O casco possui diferentes níveis de umidade, de acordo com a estrutura anatômica:
-PAREDE DO CASCO: 25% ÁGUA
-SOLA: 33% ÁGUA
-RANILHA: 50% ÁGUA
-PAREDE DO CASCO: AUMENTA EM 3% SUA DUREZA EM CAVALOS IDOSOS
-SOLA: NÃO ALTERA COM A IDADE
-RANILHA: DIMINUI EM 10% A UMIDADE, TORNANDO-SE MAIS DURO E MENOS ELÁSTICO
Importante lembrar que a idade, também, influencia diretamente a umidade de cada parte do casco, bem como sua dureza.
Os médicos veterinários devem repensar o manejo de cavalos mantidos em cocheiras, uma vez que um cavalo na natureza caminha perto de 18 horas/dia e com o movimento, maior volume sanguíneo chega ao casco revitalizando a hidratação e homeostasia do casco. Quando mantemos um cavalo 23 horas por dia em baias de 9 a 16 metros quadrados e restringimos seu caminhar, obviamente muitos aspectos músculo esquelético e psicológico do animal são prejudicados e um deles, indubitavelmente, são os cascos. A manutenção dos cascos bem hidratados é um dos aspectos mais importante para mantermos cascos e cavalos saudáveis.
MV. Esp. Marcelo Dias Miranda (CRVM-PR 4407)
Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento Palmilhas ESE