GUARDA CASCO FRONTAL X GUARDA CASCO LATERAL
A utilização de ferraduras em cavalos data a mais de 2000 anos e cada vez mais surgem diferentes modelos e ligas para inúmeras situações esportivas, profiláticas, corretivas e terapêuticas. Frente aos inúmeros modelos e aplicações dos diferentes tipos de ferraduras, uma questão sempre muito discutida é sobre a utilização ou não do guarda casco, bem como, se deve-se utilizar o guarda casco frontal.
O equilíbrio dos cascos e dos membros dos cavalos é o primeiro e mais importante aspecto do processo de ferrageamento. O equilíbrio do casco dos cavalos deve buscar equilibrar as forças distribuídas em todas as estruturas do membro do cavalo, permitindo a máxima performance pelo máximo de tempo possível. Quando se obtém um equilíbrio de forças e de suporto ao longo de todo o sistema esquelético do cavalo. uma Ótima vascularização é obtida, bem como, a saúde dos ossos e dos tecidos moles é preservada. Cascos mantidos equilibrados. raramente mancam.
O equilíbrio pode ser definido como geométrico ou funcional. O termo geométrico ou Equilíbrio Estático refere-se ao alinhamento e a relação espacial do casco do cavalo com o seu membro em uma posição de suporte. Já o termo Equilíbrio Funcional ou equilíbrio em movimento refere-se ao alinhamento e relação espacial do casco em voo.
Assim sendo, todas as situações e condições que possam produzir alterações morfológicas dos cascos, como é o caso do guarda-casco. acaba produzindo alterações importantes de equilíbrio nos cavalos. Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar a correlação entre o angulo da face dorsal do casco e o modelo do guarda casco utilizado.
Em um estudo avaliamos 43 cavalos das raças: BH (brasileiro de hipismo), Puro sangue Inglês, Quarto do Milha e Manga Larga, com idade entre 3 a 14 anos de idade. Esses cavalos foram divididos em 2 grupos de acordo com o guarda casco que já utilizavam, assim haviam 20 cavalos com guarda casco frontal 20 e 23 cavalos com guarda casco lateral. Para medir o ângulo do casco foi utilizado um medidor de angulo do casco da marca Kammer. para a medição tomou-se em conta o casco com o menor ângulo (mais agudo) no membro anterior e posterior de cada cavalo imediatamente antes da ferragem mensal de cada cavalo. Para comparar as médias dos ângulos entre os grupos foi utilizado o teste estatístico U-Mann Whitney, foram encontrados os valores médios de angulo da face dorsal dos membros anteriores de 54,1±3.4 graus (guarda casco encontrados 47 frontal) e 50,0±3.6 graus (guarda casco lateral), p<0.0001.
Para os membros posteriores foram.6±4.9 graus (guarda casco frontal) e 41.1±2.2 graus (guarda casco lateral), p<0.0001. Desta forma a média do ângulo da face dorsal do casco dos membros anteriores foi 8.20% maior nos cavalos com o guarda casco frontal e para os membros posteriores foi 16,48% maior também para os cavalos com o guarda casco frontal. Também foram encontradas diferenças significativas ao comparar o tipo de guarda casco tanto para membros anteriores quanto posteriores. Constatou- se ainda que em toda a amostra o menor ângulo da face dorsal do casco em membro anterior e posterior foi em um cavalo que utilizava guarda casco lateral e apresentava um angulo de 40 graus e 38 graus. respectivamente. Nestes termos pode-se observar que existe uma relação entre ângulos mais agudos de casco e a utilização de guarda casco lateral e existem diferenças significativas com relação ao guarda casco utilizado. Assim sendo, quando mais agudo (achinelado) se encontra um casco. maior é a alavanca formada entre o centro de rotação da terceira falange e a pinça do casco (figura 2). Quanto mais comprida a pinça do casco, mais ela traz o membro do cavalo em sentido cranial.
Quando a pinça conduz o casco e todo o membro em sentido clamai. nos membros anteriores e posteriores o peso fica desproporcionalmente aplicado muito nos talões. Adicionalmente, nos membros posteriores, os mesmos ficam continuamente posicionados muito inseridos cranialmente (Figura 3), mantendo a coluna demasiadamente dorso flexionada, bem como, todos os músculos flexores do membro pélvico e a garupa em hiperextensão. Sinal bastante claro é a posição do rabo, demasiadamente inserido entre as cochas e incapacidade de erguê-lo naturalmente (Figura 3).
Vale a pena ressaltar que além da alteração espacial do centro de gravidade do cavalo, do casco e do membro, a utilização do guarda casco lateral pode produzir danos estruturais a parede do casco (Figura 5), proporcionado a formação de um casco estrangulado e danificado na quarta parte. com pinça longa e aumento significativo da espessura entre a linha branca e a parede do casco.
Outro aspecto que o guarda-casco lateral influencia é a capacidade de expansão lateral do casco, pois as linguetas não permitem a normal dilatação do casco quando do recebimento de peso, interferindo ainda na capacidade anti-impacto, bem como, na capacidade fisiológica de retorno venoso após o recebimento do peso do animal.
Muitos estudos ainda terão de confirmar os achados neste trabalho, mas, ficou claro neste estudo que os cavalos com guarda-casco lateral estão com o ângulo da face dorsal do casco mais agudo, influenciando a conformação e equilíbrio do cavalo.
Esp. Marcelo Dias Miranda (CRMV-PR 4407) – Diretor do Pesquisa o Desenvolvimento Palmilhas ESE