Rachaduras em cascos tem frequência alta na clínica médica e podem ocasionar nos cavalos, desde uma leve claudicação, até mesmo a incapacidade funcional do mesmo. Normalmente as rachaduras são verticais e recebem uma classificação de acordo com a região do casco que surgem: rachaduras de pinça, talão, etc. E,em relação a profundidade das mesmas, são classificadas como superficiais ou profundas. Ainda em relação a sua classificação, quanto mais perto da banda coronária ou mais próximo da superfície solar, são denominadas rachaduras proximais ou distais, respectivamente. As rachaduras que se iniciam na sola e alcançam a coroa, denominam-se rachaduras completas. Já as rachaduras que iniciam na coroa ou na sola e não alcançam a extremidade distal ou proximal do casco, denominam-se rachaduras incompletas
Figura 1: Rachadura vertical profunda e completa de talão e que afastou do esporte o cavalo
Com menor incidência, mas, com mesma importância, as rachaduras horizontais também acometem os cascos. Podem estas ter como origem traumas no estojo córneo, abscessos ou hematomas, lesões e cicatrizes na região do extrato germinativo da banda coronária do casco que provoque a uma falha na formação da parede. Outra variação das rachaduras horizontais, são as rachaduras semelhantes a finos cortes com um bisturi, denominadas “rachaduras fio de cabelo”. Processos de intoxicação por selênio em animais alimentados com volumoso proveniente de solo com níveis altos de selênio ou em situações onde as forças mecânicas incidentes sobre o casco estão desequilibradas, são as causas mais correlacionadas a este tipo de rachadura. Nos casos de rachaduras horizontais, o tratamento inclui a retirada da fonte em excesso do selênio, no caso da Selenose e, na situação de desequilíbrio mecânico, alguns autores sugerem que a hidratação do casco proporcionará uma queratina mais flexível e com menor tendência ao rompimento, associado, ao reequilíbrio das forças incidentes no casco através de casqueamento corretivo e a utilização de dispositivos que diminuam o impacto. As literaturas citam como alguns fatores etiológicos das rachaduras verticais: trauma, secura, cascos frágeis com baixa qualidade córnea, onicomicoses, pressão dos guarda cascos, doença da linha branca, negligência em relação ao casqueamento, cascos com paredes muito finas, cascos pequenos ou contraídos, “trush”, ferraduras pequenas e desequilíbrio médio-lateral dos cascos.
Figura 2: Rachadura horizontal abaixo da banda coronária por desequilíbrio de forças incidentes.
Tratamento Convencional
O tratamento convencional das rachaduras verticais presentes nas literaturas modernas de podiatria e da clínica médica de equinos sugerem a busca da correção do desequilíbrio médio lateral, o uso de ferraduras fechadas, a descompressão da sola no local da fenda, a aplicação de resinas reparadoras, técnicas de amarração em forma de laço ou a utilização de cravos transversais às rachaduras para mantê-las fechadas, bem como, “abrir” a rachadura. A utilização de abraçadeiras metálicas abertas sobre as mesmas para permitir uma tensão controlada a fim de unir o casco fendido é bastante observado. Mas, infelizmente, devido a elasticidade da parede do casco, a superficialidade da área sensível para a fixação de parafusos, a grande quantidade de peso aplicado em cada casco, a grande desaceleração e impacto no casco, por muitas vezes o reparo é bastante difícil e pode levar o cavalo a ser afastado do esporte equestre.
Nova possibilidade terapêutica
Certa vez em 2010 me ligou um amigo, Marcos Camargo Bueno, ferrador de Santa Catarina, o qual trabalhamos juntos por aproximadamente 5 anos em uma hípica em Curitiba e, tomado por certa surpresa me comentou que foi ferrar um cavalo com rachadura vertical profunda e completa de talão e que precisava de uma palmilha para o cavalo e como não tinha a palmilha de 4mm, que desejava, usou um modelo denominado Expansor de Casco ESE. Ao retornar no mês seguinte para ferrar este cavalo, a rachadura estava fechada na coroa em alguns milímetros e já não havia sangramento e o cavalo claudicava muito menos. Frente ao observado, continuou o tratamento usando o Expansor e conseguiu o fechamento do casco, desde a coroa até alcançar a sola e o fechamento total, meses depois. Mas, após a observação do Marcos, surgiu uma questão a ser resolvida: Como uma a palmilha expansora poderia unir o casco na região da banda coronária e manter a união até que o crescimento eliminasse por completo a rachadura durante vários meses? Após algum tempo de estudo e análises, conseguimos entender o mecanismo que promoveu o fechamento da rachadura.
Mecanismo de ação do expansor no tratamento das rachaduras de cascos
O Expansor de Casco foi um dispositivo que desenvolvemos em 2008 a partir da ideia do expansor de palato utilizados por dentistas para abrir a fissura palatina em algumas situações odontológicas. Pensamos que, se o expansor de palato consegue, com pressão contínua abrir uma fissura óssea, e, se desenvolvêssemos uma palmilha que fizesse o casco escorregar do seu centro geométrico para suas bordas poderíamos criar uma pressão contínua de escorregamento que possibilitaria aumentar o diâmetro do casco desde seu extrato germinativo na banda coronária e com isto possibilitar tratar patologias como o encastelamento, as contrações de cascos, de talões e situações compressivas do estojo córneo? Sim, após testarmos diferentes ângulos para o casco deslizar, conseguimos alcançar um desnível que lenta e progressivamente, sem causar dor ou dano ao estojo córneo, faz o casco responder perfeitamente a pressão de escorregamento por um desnível centro lateral. E, com o uso contínuo, o Expansor altera o direciona mento tubular desde a coroa, promovendo um casco com maior diâmetro solar, bem como, trata patologias como talões contraídos, atrofias de ranilhas, síndromes por compreensão do estojo córneo contra as estruturas internas ósseas, vasculares e ligamentares do casco. Em 2013, o INPI nos concedeu a patente de invenção do dispositivo e desde sua concepção muitos animais se beneficiam do seu uso. Ok, mas, você pode estar se perguntando: o que mecanismo de ação do Expansor tem a ver com a correção e tratamento das rachaduras? Tem uma íntima correlação, pois, pelo seu mecanismo de ação, quando o casco é forçado, em sua superfície solar a expandir o seu diâmetro, ele acaba produzindo uma força de reação no casco na extremidade mais proximal a Banda Coronária. E, esta tendência, é que acaba produzindo a força necessária para manter e fechar uma rachadura desde a coroa até a sola. Ou seja, com o advento de um produto para expandir o diâmetro do casco, ganhamos pela feliz observação de um excelente ferrador, uma nova aplicação para este dispositivo médico veterinário.
Foto 3: Casco antes do atendimento: nota-se uma ferradura pequena, rachadura vertical completa e profunda.
Foto 4: Na região de talão é possível observar a maior altura do casco no aspecto medial, elevando a pressão e fazendo o casco rachar.
Foto 5: Além do uso da ferradura muito pequena, a mesma estava muito fechada, principalmente nos talões, fazendo que a coroa sofresse mais deformação, produzindo maior pressão e conduzindo ao rompimento do casco.
O nivelamento e adequado balanceamento médio lateral é fundamental para criar forças incidentes equilibradas nos cascos e, concomitante ao uso do Expansor com ferraduras fechadas, pode se alcançar um ótimo e sustentável resultado. Adicionalmente, a indicação de produtos que estimulem o crescimento é importante para acelerar a taxa de crescimento médio mensal do casco e eliminação mais rápido possível da parede danificada. A utilização do Expansor no tratamento das rachaduras descer ocorrer até que a rachadura seja completamente eliminada e o novo casco esteja redirecionado.
Foto 6 e 7: Cavalo após a correção parcial do equilíbrio latero-medial e retirada do inserto metálico. Início da utilização do Expansor de Casco, com ferradura fechada em alumínio.
Resultados
Foto 8: Após a segunda ferragem. Na foto 6 é possível observar um melhor alinhamento da banda coronária.
Foto 9: É possível observar a diminuição do espaço entre a rachadura, bem como, o início do fechamento do casco na coroa. O cavalo já não sangrava na rachadura e a claudicação diminui.
Compartilhar informações e ideias é uma tendência mundial. O trabalho conjunto de Médicos Veterinários e Ferradores deve ser cada vez mais estimulado e pactuado a fim de criarmos um conjunto de riquezas técnicas e culturais colaborativas e multidisciplinar em torno do cavalo e dos cascos.
MV. Esp. Marcelo Dias Miranda (CRMV-PR 4407) Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento Palmilhas ESE
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