TEORIAS MODERNAS DE CASQUEAMENTO E FERRAGEAMENTO DE CAVALOS
Modernamente, Médicos Veterinários e Ferradores buscam trabalhar no ferrageamento e casqueamento de cavalos utilizando de técnicas que lhes foram passadas de geração em geração ou através de simpósios e cursos, bem como, pela própria experiência pessoal na área. O objetivo maior destes profissionais é manter os cavalos saudáveis, equilibrados e com ampla capacidade de exercer suas atividades equestres.
Muitas variáveis são importantes para a obtenção de cascos e cavalos equilibrados. Em relação aos cascos, podemos controlar e interferir em algumas variáveis, como: comprimento de pinça, ângulo de face dorsal do casco, ângulo do talão, ângulo da terceira falange no interior do casco, altura e equilíbrio de talão, concavidade de sola, alinhamento da banda coronária, comprimento e largura do casco, circunferência do casco, comprimento e largura da ranilha, eixo podo falangeano e espessura da parede são algumas variáveis passíveis da interferência pelo médico veterinário podiatra e pelo ferrador e podem ser manipuladas através de inúmeras técnicas de ferrageamento.
Atualmente, algumas técnicas de casqueamento vêm sendo amplamente utilizadas em todo o mundo com sucesso na busca do equilíbrio dos equinos. Algumas teorias que modernamente ganharam notoriedade são:
- Teoria dos Quatro Pontos: o médico Veterinário, ferrador e pesquisador Ric Redden, responsável pelo Internacional Equine Podiatry Center, no Kentucky, propõe que o casqueamento deve produzir um alívio de peso na região da quarta parte medial e lateral do casco, além disto, proporcionar o rolamento da pinça para facilitar a retirada do casco do solo. Adicionalmente a isto, deve permitir que o casco receba o peso nos quatro pilares de sustentação do casco que se encontram um ponto em cada talão e dois pontos na pinça do casco. Atualmente Dr. Redden segue trabalhando na Podiatria Veterinária, onde além do atendimento clínico, desenvolve produtos para os cascos.
- Natural Balance ou Equilíbrio Natural: Gene Ovnicek, ferrador do Colorado e pesquisador do Equine Lameness Preventive Organization, passou muitos anos observando o casco de cavalos selvagens desferrados e desenvolveu o seu método conhecido como Natural Balance. Este método deu origem a uma ferradura que leva o mesmo nome. Ovnicek tem como princípio de casqueamento a manutenção ao máximo do calo da sola, bem como, o corte mínimo da ranilha. Utiliza marcações na superfície solar a fim de orientar o processo de corte. Além de muitas participações em eventos sobre cascos e cavalos, teve uma especial participação em um capítulo do livro clássico da medicina equina, Claudicação em Equinos, segundo Adams. É fundador da EDSS – Equine Digit Suport System onde desenvolve ferraduras e produtos terapêuticos para casco.
- Método Duckett Dot: Desenvolvido pelo ferrador Dave Duckett, este método tem como princípio de equilíbrio a definição e localização do centro geométrico de cada casco, bem como, propõe um casqueamento que crie um ótimo equilíbrio para a terceira falange e para o dígito. A partir deste ponto médio do casco, todas as demais estruturas anatômicas do casco tomam como referência este ponto do casco para buscar centralizar e distribuir igualmente o peso. Desde 1980, Dave vem preconizando em sua teoria que, um ótimo alinhamento do casco e quartela, adicionalmente a uma melhora na capacidade de retirar o casco do solo, o “break over”, sejam variáveis indispensáveis no caminho do equilíbrio do ferrageamento de cavalos.
- Método de Casqueamento de Strasser: a médica veterinária alemã, Hiltrude Strasser, defende a ideia de que quanto mais natural os cavalos estiverem, melhor. Em sua teoria, propõem que os cavalos mantidos em condições naturais têm a capacidade de se manterem por si só. Hiltrude acredita que os cavalos devam ser mantidos desferrados e assim se equilibram pela sua natureza. Seu método é bastante controverso e existe muitos críticos a sua teoria em manter os cavalos desferrados.
- Associação Americana de Ferrageamento: esta Associação preconiza em seu programa de certificação que o método tradicional de casqueamento deve tomar em consideração que o casco deve ser mantido nivelado e os ângulos da quartela, da escápula e da face dorsal devam ser paralelos. Em relação a sola e ranilha, devem receber peque-nos cortes a fim de manter a naturalidade e qualquer alargamento do casco deve ser aparado em sentido de manter a simetria.
Podemos citar ainda uma teoria mais recente do ferrador argentino Daniel Anz que consolidou seus pensamentos e teorias em um método batizado de Balance F. Este método preconiza que devemos respeitar e não tentar corrigir defeitos ou desequilíbrios dos cascos. Daniel Anz comenta em seu livro que tentar corrigir as situações dos cascos é um erro e que devemos aceitá-los e mantê-los como são.
Desde 2008 trabalhamos em uma teoria de casqueamento e ferrageamento denominada Balanceamento Conformacional. Preconiza-se nesta, que cada equino, único como indivíduo e por suas particularidades e, principalmente, por sua conformação, deve receber o seu específico ajuste postural através da reorientação vetorial de suas estruturas ósseas dos membros por manobras e ajustes da forma dos cascos e como este se relaciona com o solo.
O Balanceamento Conformacional entende o casco como uma estrutura capaz de orientar e influenciar cada osso e tecido mole dos membros dos cavalos e interagir na biomecânica de maneira dinâmica e contínua por toda a vida.
Preconiza ainda que um cavalo antes de ser ferrado deve ser observado em repouso, ao passo e ao trote. Deve-se buscar identificar e avaliar situações como o casco em repouso, a saída do solo, o voo e pouso do mesmo, bem como, sua própria conformação e como está influenciando o equilíbrio do cavalo. É notório a capacidade de moldar-se dos tecidos ósseos e o Balanceamento Conformacional utiliza-se da moldabilidade óssea como instrumento de correção e auxílio no ajuste vetorial de forças incidentes sobre o membro dos equinos. Entendemos, também, que o casco pode ser corrigido por toda a vida do cavalo e que a partir dele é possível proporcionar um novo equilíbrio aos equinos.
Manter e buscar entender cada vez mais a altivez e elegância do cavalo que se move através de um gigante sistema biológico denominado casco é nossa responsabilidade. Manter a naturalidade e rusticidade do casco em sinergia com as atividades equestres e manejo moderno, é um grande desafio.
Independente do caminho ou teoria que se aplique, a virtude está no equilíbrio.
Médico Veterinário Especialista Marcelo Dias Miranda (CRMV-PR 4407)
Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento Palmilhas ESE